Na época colonial, nasceu o Núcleo De Arte, em Lourenço Marques, actual Cidade de Maputo, com a direcção de Almeida Santos (que era presidente do parlamento português) e, a seguir a ele, sucederam outras direcções.
Surge como meio de difusão da educação artística, coordenação e promoção do progresso das artes na colónia. As primeiras actividades foram exclusivamente dedicadas à promoção de distintas formas de manifestação artística, desde teatro, música, literatura, entre outras, incluindo as artes plásticas, as quais continuam a ocupar um lugar de eleição no Núcleo, nos últimos anos.
Naquela época, oferecia uma variedade de cursos ministrados por artistas associados, que cobriam uma variedade de temáticas e áreas, desde desenho e pintura até escultura e arquitetura.
Durante os primeiros 10 anos de existência do Núcleo De Arte, a participação dos nativos negros e mulatos foi limitada ao papel de modelos ou membros do público, cabendo-lhes apenas auxiliar aos colonos. No entanto, após o fim da Segunda Guerra Mundial, eles começaram a entrar no Núcleo como alunos e artistas, foi a partir daí que tiveram o privilégio de se envolverem directamente nas actividades e darem sua contribuição na cena da arte.
O Núcleo deu bases a muitos artistas e formou-os, muitos dos quais renomados, alguns em vida e outros em memória, como é o caso de Malangatana que teve as primeiras dicas, com Frederico Ayres e a seguir com João Ayres. Não podemos nos esquecer de Hortêncio Langa, quem também cantou e pintou no espaço.
O anterior dilema nos programas do Núcleo De Arte, especificamente na formação e participação de todos, sem exclusão ou descriminação, reflete a segregação e o racismo institucional vividos na época colonial. Associado a isto, duas questões podem ser levantadas para reflexão, a primeira "há inclusão social nas artes e cultura, nos dias de hoje?" e a segunda "há acesso equitativo a oportunidades culturais, educacionais e profissionais para todos os grupos da sociedade?".
Longe de responder às questões acima, hoje em dia, embora tenhamos feito progressos significativos na promoção da igualdade e inclusão, ainda se enfrentam desafios similares em várias áreas da vida social. "A verdade que seja dita": há movimentos comunitários emergentes, organizados por jovens artistas, que buscam levar a arte aos bairros periféricos e, nota-se, principalmente, seu investimento em oferecer às crianças bases artísticas de diferentes formas, talvez porque como diz o antigo ditado "de pequenino é que se torce o pepino". E estas acções, digam-se "humanitárias", contribuem para a formação de pessoas mais criativas, expressivas e culturalmente conscientes.
Houve aspectos positivos ao longo do alinhamento do Núcleo De Arte que devem ser considerados. Após o conflito mundial, por exemplo, a arte em Moçambique experimentou um avanço significativo, em parte devido à conexão com a arte da África do Sul. Foi nestes momentos que o Núcleo De Arte organizou o primeiro Concurso Anual de Arte Plástica e começou a cumprir um novo objectivo: ajudar os artistas a se formarem e lançarem suas carreiras.
Nesta senda de bons feitos, foi na década de 1960 que o Núcleo foi fundamental para o surgimento da crítica de arte em Moçambique. E em 1962, Augusto Cabral e outras personalidades, começaram a disseminar a crítica de arte, no Jornal Notícias.
Em relação à crítica de arte, pode-se levantar uma terceira questão, até porque o assunto tem sido alvo de vários debates nos últimos dias e ainda se pode insistir nisto "há uma crítica de arte em Moçambique. E, se sim, para que nos serve?"
Com a independência do país, o Núcleo De Arte foi reconstruído e reinventado, mantendo-se fiel à sua história, mas sempre olhando para o futuro, apesar de em alguns momentos, a renda baixa ter desestabilizado o espaço, fazendo com que alterasse as instalações. Actualmente, localiza-se na Rua da Argélia, 194, na Cidade Maputo.
Como mencionamos nas primeiras linhas deste artigo, as artes plásticas continuam a ocupar um lugar de eleição no Núcleo. Hoje em dia, não se fala em pintura e telas, sem mencionar o espaço. Conta com artistas plásticos residentes que regularmente expõem suas obras, sem esquecer das exposições individuais e colectivas que o Núcleo De Arte acolhe, além do facto de oferecer, igualmente, um espaço de lazer.
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