Passam-se 15 anos desde que se calou a voz de Ricardo Rangel, fotógrafo e fotojornalista mestiço, com descendência africana, europeia e asiática, nascido e criado pela avó materna, natural de Inhambane, nos subúrbios de Lourenço Marques, actual capital moçambicana, Cidade de Maputo.
Este ano celebra-se o centenário do seu nascimento, daí que para homenageá-lo e imortalizar suas obras e lições deixadas aos fotojornalistas que sucederam a sua geração, vai decorrer a inauguração da exposição “Ricardo Rangel: Entregue às paixões”, no dia 15 de Fevereiro, às 17h30, na Galeria Kulungwana.
A mostra tem a curadoria de Jorge Dias e colaboração de Isa Bandeira e estará em exibição até ao dia 8 de Março. Oferece uma visão da contribuição significativa de Rangel em prol da fotografia e fotojornalismo em Moçambique.
Em “Ricardo Rangel: Entregue às paixões” são reunidas fotografias que retratam um amplo período, do colonialismo ao pós-independência, além dos momentos ímpares de Rangel ao lado de seus conterrâneos e de Beatrice, sua parceira de vida.
Da colecção de fotografias selecionadas para o seu centenário, encontram-se as paixões que encheram seu ser ou dito de outra forma “que impulsionaram Ricardo Rangel” e se poderá perceber que, mais do que qualquer coisa, fora movido pela liberdade, justiça, amor e a dedicação à humanidade, valores estes que são propósitos de várias formas de arte nos dias de hoje.
Durante seu percurso, Rangel, através da lente da sua câmera, registou fotografias que documentam as vivências do país na época colonial, sejam as desigualdades sociais e culturais que se verificavam naqueles tempos e hoje basta olhar com atenção que existem várias semelhanças e poucas mudanças.
Isa Bandeira, falando sobre o trabalho de um fotógrafo, destaca que “o fotógrafo direcciona a interpretação de uma narrativa visual, pois é responsável pela produção e recepção da imagem. No entanto, a imagem contém em si um conjunto complexo de interpretações e construção de alteridade”.
Um verdadeiro articulador da vida sócio-cultural moçambicana é como escritores, pesquisadores e fotógrafos definem o percurso de Ricardo Rangel, apesar de serem, sempre, insuficientes os adjectivos que descrevam as memórias que nos restam do fotojornalista.
Com seu olhar único, andou por várias partes do país, capturou vários episódios marcantes e fez questão de tratá-los de forma imparcial, com destaque para sua oposição ao regime colonial, quando denunciou a discriminação racial e social, sentida durante a sua época. É por aí onde se percebe o seu lado humano e a fotografia lhe serviu muito bem nestes moldes, além de confirmar sua habilidade única como contador de histórias.
Após sua morte, levantou-se uma geração de fotógrafos e fotojornalistas que, de forma particular, dão seu contributo significativo na fotografia e no fotojornalismo em Moçambique, fazendo jus ao ofício deixado por Ricardo Rangel.
A exposição “Ricardo Rangel: Entregue às paixões” que já bate às portas é a celebração de um legado indescritível e incomparável deixado pelo fotógrafo e fotojornalista que como muitos chamam “pai do fotojornalismo moçambicano”.
Vale referenciar que Ricardo Rangel foi o primeiro contratado não-branco, no jornal "Notícias da Tarde", onde trabalhou como repórter fotográfico, em 1952. Mais tarde, Rangel passou para o principal jornal de Moçambique, o Notícias, em 1956.
De 1960 até 1964 foi fotógrafo-chefe do semanário “A Tribuna”. Já, em 1970, juntamente com quatro colegas da área (jornalistas), fundou a primeira revista à cores, denominada “Tempo”, um outro semanário que era, na altura, a única publicação feita no país em oposição ao governo colonial. Foi, principalmente, neste último, onde dedicou-se como fotojornalista que, na maior parte das vezes, documentava a pobreza e política colonial.
Em 1981, foi nomeado o primeiro director de “Domingo”, outro semanário moçambicano. Tempo depois, fundou, também, a “Associação Fotográfica Moçambicana”, onde foi o primeiro presidente.
Recebeu seu doutoramento honorário em ciências sociais consequente da sua contribuição para a cultura moçambicana, pela Universidade Eduardo Mondlane.
Ricardo Rangel apresentou seu trabalho na Europa e em África, em exposições, publicações e em Museus, a partir de 1983. Suas obras são, agora, parte integrante do acervo e memória do país, uma parte vital da história do fotojornalismo moçambicano.
Font da imagem: Moçambique para todos
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