A team design informa procurou, desta vez, conversar com a Nazidência Macário, esta que é designer de comunicação de nacionalidade moçambicana e trabalha, actualmente, na Wise+ da TotalEnergias, tendo prestado serviços de design para várias empresas. Esta entrevista foi conduzida pela Fernanda Muhambe com o objetivo de explorar a carreira da Nazidência, assim como a sua perspectiva sobre o design sustentável.
Olá Nazidência, seja bem vinda a Design informa.
Olá, muito obrigada.
Quem é Nazidência Macário?
Sou uma jovem como qualquer outra, tive uma infância não muito comum, com altos e baixos, devido as condições financeiras dos meus pais, minha vida desde cedo foi uma batalha.
Eu sempre tive gosto por artes, na minha família não tive referências de arte ou artistas, mas eu sempre tive um gosto apurado em artes.
O que fez com que escolhesses o Design, quais foram suas influências?
Tive um professor na escola secundária que conhecia o meu gosto e inclinação por artes e falou me sobre o ISArC (Instituto Superior de Artes e Cultura). Foi lá onde tive o primeiro contacto com o Design, perguntei a amigos e familiares sobre o que era design e simplesmente falavam que era Desenho artístico (risos) e daí inscrevi-me.
Atualmente consideras-te designer de produtos ou de comunicação?
Eu actuo na área de design de comunicação, porque é a área que tem mais mercado no País , é um mercado vasto para se explorar.
Há alguma experiência desafiadora que enfrentaste enquanto profissional de design e como conseguiu contornar?
Sim, foi quando tive de trabalhar no manual de macro finanças fiscais do Ministério de Economia e Finanças. Eu trabalhava como coordenadora de produção na altura em uma empresa, e tudo que era produzido eu devia averiguar, e eu era a única menina naquela empresa e chefe para piorar, então liderar homens nunca foi fácil, sempre menosprezaram-me por ser mulher.
Então agora, como está a tua carreira como profissional de Design?
No final de 2021 eu cheguei à conclusão que já não queria ser mais contratada...[ risos], então eu comecei a trabalhar como consultora, eu aproximo nem, se a empresa tem algum interesse eu vou para lá converso com a empresa, faço contrato de 3 a 4 meses só de consultoria e é assim como tenho trabalhado, mas este ano eu fui desafiada por uma proposta muito boa e eu sinto que posso crescer nessa área, posso desenvolver habilidades porque é uma empresa grande. Então neste momento eu trabalho como consultora e presto serviços para algumas empresas Moçambicanas, mas sou oficialmente estagiária do programa WiSe+ da TotalEnergies.
E graças a Deus trabalho na área de comunicação, na área de design, tudo que tem a ver com branding e social mídia, mídia relationship eu trabalho nessa área.
Uma curiosidade, acredito que para muitos leitores, na área de design de comunicação e principalmente na TotalEnergies é possível implementar pequenas práticas de design sustentável?
É assim, o design sustentável nós implementamos nos serviços e nas atividades do dia-a-dia, mas investir na área sustentabilidade sim, e a empresa foca-se totalmente em projetos sustentáveis, quanto mais verde for o projeto melhor será, isto em todas as áreas.
Nice! Então gostava de saber qual é a tua visão em relação ao design sustentável?
Aham! Eu costumo ensinar isso para algumas crianças nem, que convivem comigo, design sustentável é aquilo que é bom para mim e para o meio ambiente. Se é bom para o meio ambiente é bom para mim, agora se não é bom para o meio ambiente não pode ser uma coisa boa para mim.
E quais são os princípios ou valores fundamentais do design sustentável que segues em seu trabalho? Lembro-me que no workshop estiveste a mostrar os teus projetos sobre sustentabilidade, gostaria que fizesses uma recapitulação dos pilares levantados por ti, para os que não puderam acompanhar o workshop.
Ahm ok! Eu acredito nem, como alguns designers já renomados dizem que o primeiro ponto focal de um bom design, não importa a área, o produto tem que ser aquele que responde a vida cíclica, fazer jus aos aspectos econômicos, ambiental e social. Se eu pretendo colocar um produto, tem que ser um produto que não seja extremamente caro, que não prejudique o meio ambiente, isto é, não precise de extração de minerais ou pode-se extrair mas que seja de uma forma que não prejudique o meio ambiente e que socialmente seja aceite, porque não adianta nada ser ambientalmente agradável e economicamente acessível, tu podes produzir em série e as pessoas não vão comprar e não vão compreender estes produtos.
Não vão agregar valor a sociedade!
Exatamente, e provavelmente não vai responder aquilo que são as necessidades. Na academia os professores falavam ̏ olhem, vocês têm que ver a necessidade de colocar um produto ˝, as vezes não é necessário colocar um produto, mas de retirar um produto da natureza. Eu acredito que se nós usássemos garrafas de vidros para aquisição de agua, ao invés de comprarmos uma caixa que tem lá umas 48 garrafas plásticas que no fim do dia não vão ter utilidade, porquê não criar postos de fornecimento de agua potável que a pessoa chega lá com sua garrafa de 700ml enche e paga a quantidade que levou, eu acredito que isso iria reduzir bastante o nível de plástico que consumimos que causa problemas de poluição, da mesma forma esta acção poderia ser implementada em todas embalagens de produtos que não são reutilizáveis e sustentáveis, isto , reduziria os custos dos produtos e teríamos novos serviços com propostas sustentáveis, estes são os pilares que sempre carrego.
Podes partilhar conosco algum dos seus projectos em que foi possível implementar esses valores de design sustentável? Ou de que forma essas práticas impactaram o produto final?
Bom eu tenho o Green Office que não é um produto mas sim um serviço que nós desenvolvemos, tem como foco principal retirar as coisas desnecessárias que nós acreditamos que aumentam a produção de plástico ou algum item com material poluente, nós investimos na aquisição de um software para a redução de impressão de papel, atualmente retiramos o fornecimento de agua por via das garrafas descartáveis mas sim através daqueles bebedouros grandes e retornáveis de preferência de vidros, e do outro lado temos um projeto kuhamba que é um processo meio inverso do Green Office, e o processo que usamos aquilo que já existe para produzir um outro produto.
Existem tendências ou áreas emergentes que acreditas que os designers moçambicanos devem explorar?
Eu não diria sim ou não, porque isso depende da habilidade que a pessoa tem, porque eu não sou muito de padronizar as coisas mas eu acredito que em qualquer área o designer moçambicano pode atuar, eu por exemplo recorri ao design sustentável, a quem pode recorrer ao design thinking, então a área que tu ti sentires confortável e que te ajude a solucionar os problemas do dia-a-dia tanto na execução de projetos tanto na parte conceptual, assim como o ser humano eu acredito que são áreas que qualquer um pode explorar.
Design em Moçambique tem futuro?
[risos]
Essa pergunta não pode faltar [risos].
A resposta é sim, tem futuro, nós estamos a transitar para uma era extremamente digital em que tudo é comunicação digital então há muito espaço para o design, o que tem que acontecer é que os designers não podem parar no tempo, nós devemos evoluir juntos com a nova demanda do mercado digital, Raramente faz-se pôsters para imprimir depois colar nas ruas, primeiro porque suja a cidade e deixa as ruas feias depois de um tempo, então há essa necessidade de evoluir.
Nazidência, muito obrigada, foi um grande aprendizado e acredito que vai ajudar a muitos, principalmente os aspirantes em design.
Eu que agradeço, e eu espero que ajude! Muito obrigada.
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4 Comentários
Interessante.
ResponderEliminar"Fazer jus" oque quer dizer? Rsrsr
olá Caro Leitor, queria a Nazidência dizer que um produto sustentável deve considerar aspectos económicos, sociais e ambietais... espero que tenha ajudado. muito obrigada por deixar ficar sua dúvida.
EliminarObrigado pela oportunidade @Fernada Muhambe
ResponderEliminarA equipe da Design informa é que agradece imenso... Muito obrigada
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